Dietoterapia para pacientes vivendo com HIV/SIDA

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O vírus da imunodeficiência humana (HIV), responsável pela SIDA, é transmitido principalmente por meio de relações sexuais, mas sua presença no organismo não garante automaticamente o desenvolvimento da síndrome. 

Este artigo visa desmistificar concepções equivocadas, destacando a importância de uma terapia abrangente para além do uso de medicamentos. 

Exploraremos os cuidados específicos durante as fases da doença, fornecendo informações cruciais para o tratamento nutricional de pacientes portadores de HIV ou AIDS. 

O que é? 

A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA, em inglês: Acquired Immunodeficiency Syndrome, AIDS) é uma doença que afeta o sistema imunológico. 

Já “HIV”, é a denominação dada ao vírus causador da patologia, transmitido através de contato sexual, na maior parte das vezes. O paciente pode ser portador de HIV e não ter evoluído para SIDA. Neste caso, há grande possibilidade de um quadro clínico assintomático. 

Na década de 70, a AIDS teve picos de surto a nível mundial, o que foi erroneamente vinculado à orientação homossexual. A infecção é um risco para homens e mulheres que possuem vida sexual ativa, independente do gênero com qual se relaciona. 

Desde então, há grandes preconceitos e tabus acerca do assunto. Como profissionais da saúde, é nosso papel disseminar as informações corretas. Afinal, essa é uma doença comum que acomete mais de 150 mil brasileiros por ano e não possui cura. 

Apesar da transmissão por via sexual ser a mais comum, vale lembrar que o HIV pode se instalar em outros contextos. 

Durante a gestação e parto, é necessário que sejam tomados cuidados específicos para que a possibilidade de transmissão mãe-bebê seja minimizada. A amamentação não é recomendada neste contexto. Além disso, o compartilhamento de agulhas e objetos cortantes também é um fator de risco. 

Fisiopatologia 

O vírus da imunodeficiência humana (HIV) é o agente causador da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA). 

Ciclo replicativo do HIV-1. | Download Scientific Diagram

O HIV pertence à família dos retrovírus e ataca principalmente as células CD4, um tipo de célula de defesa do sistema imunológico. 

O processo de infecção começa quando o HIV se liga ao receptor CD4 na superfície da célula e utiliza a enzima reversa transcriptase para converter seu RNA em DNA, integrando-se ao genoma da célula hospedeira.

Ao longo do tempo, o HIV replica-se rapidamente, levando à destruição progressiva das células CD4. Isso resulta em uma diminuição da capacidade do sistema imunológico de combater infecções, tornando o indivíduo suscetível a doenças oportunistas

Além disso, o HIV pode causar inflamação crônica e ativação imunológica, contribuindo para complicações associadas.

A evolução para a SIDA ocorre quando o número de células CD4 atinge um nível crítico, geralmente medido como contagem de CD4 inferior a 200 células por microlitro de sangue. 

Nessa fase avançada, o corpo começa a apresentar sintomas. O sistema imunológico comprometido não consegue mais proteger o corpo eficazmente, resultando em infecções graves e, muitas vezes, em certos tipos de câncer. 

O tratamento antirretroviral (TAR) pode ajudar a controlar a replicação viral, preservar as células CD4 e retardar a progressão para a SIDA, permitindo uma vida mais saudável para pessoas vivendo com HIV.

Dietoterapia 

As pessoas vivendo com HIV/Aids (PVHA) enfrentam riscos maiores de desnutrição e inanição. Isso porque, tanto o HIV, quanto a desnutrição, afetam o sistema imunológico, e juntos podem ser ainda mais prejudiciais. PVHA correm mais riscos de complicações, como desnutrição energético-protéica, anemia e falta de vitaminas. 

Contudo, quando estão bem nutridas e controlam a carga viral, têm mais chances de resistir aos efeitos do HIV e retardar a progressão da doença à SIDA. 

Cuidar da nutrição das pessoas que vivem com HIV/Aids envolve avaliação, diagnóstico nutricional, intervenção e acompanhamento. 

A avaliação do risco nutricional é importante. No entanto, poucas ferramentas foram validadas para PVHA, sendo a Avaliação Subjetiva Global uma delas.

Além disso, o cuidado nutricional inclui análise da história clínica, do consumo alimentar habitual, dados antropométricos, composição corporal e exames físicos e bioquímicos.

Necessidades nutricionais para PVHA 

Energia
  • Pacientes assintomáticos 30-35 kcal/kg/dia.
  • Pacientes sintomáticos com AIDS e T CD4+ <200=40 kcal/kg/dia.
Proteínas
  • Na fase estável da doença a necessidade de proteína deve ser de 1,2g/kg peso atual/dia.
  • Na fase aguda a necessidade de proteína deve aumentar para 1,5g/kg de peso atual/dia.

 

Micronutrientes
  • Vitaminas A, B, C, E, zinco e selênio que não devem ser inferiores a 100% das DRIS (Dietary Reference Intakes).
Probióticos
  • O uso deve ser acompanhado em pacientes imunossuprimidos.*

Fonte: (COPPINI e JESUS, RP, 2011).

*A má absorção resultante de diarreia crônica ou má saúde intestinal pode ser tratada através de uma combinação de manejo de medicamentos e aconselhamento nutricional. Recomenda-se o monitoramento do consumo de probióticos para evitar bacteremia por Lactobacillus em pacientes com contagem de células T CD4+ <200 ou uma porcentagem de células T CD4+ dos linfócitos totais <15%.

Recomendações para atenuar efeitos colaterais da TARV:

Náuseas/vômitos: 

  • Preferir alimentos secos como biscoitos, tipo cream cracker ou água e sal, ingeridos assim que acordar, sem o acompanhamento de líquidos. 
  • Fazer pequenas refeições, várias vezes ao dia. 
  • Evitar a ingestão de líquidos durante as refeições. 
  • Dar preferência aos alimentos frios ou à temperatura ambiente, evitando os quentes. 
  • Evitar alimentos gordurosos, bebidas gasosas (como refrigerantes), leite, café e excesso de condimentos. 
  • Evitar ingerir alimentos muito doces.

Sensação de empachamento: 

  • Evitar alimentos gordurosos, especialmente os de origem animal. 
  • Fracionar as refeições. 
  • Evitar a ingestão de líquidos durante as refeições.

Pirose (queimação estomacal): 

  • Evitar condimentos, pimenta de todos os tipos e alimentos gordurosos. 
  • Se possível evitar deitar após a refeição. Caso não seja uma possibilidade, manter o corpo e a cabeça levemente inclinados para frente. 

Diarreia

  • Realizar dieta obstipante, em pequenas quantidades e fracionada. 
  • Otimizar a hidratação. 
  • Verificar a indicação de reposição de eletrólitos e probióticos.

Constipação Intestinal: 

  • Realizar dieta laxativa, rica em fibras
  • Otimizar hidratação. 
  • Verificar a indicação de probióticos e laxantes.

Gases intestinais: 

  • Evitar a ingestão de alimentos que causem gases, tais como: bebidas gasosas, doces, brócolis, couve-flor, couve, feijão, batata-doce, por exemplo. 
  • Reduzir o consumo de alimentos ricos em fibras insolúveis, como grãos e cereais (ex.: milho e grão-de-bico), casca de frutas e verduras como alface, couve, por exemplo.

Dificuldade de deglutição, inflamação na boca e/ou esôfago por candidíase ou outras infecções:

  • Ingerir alimentos líquidos, pastosos ou de consistência macia, em temperatura ambiente ou frios, de acordo com a tolerância. 
  • Indicar os alimentos preferidos para estimular o apetite.
  • Evitar alimentos com excesso de sal, ácidos, muito condimentados e picantes. 
  • Realizar pequenas refeições, várias vezes ao dia.

 

Conclusão 

Sendo assim, fica claro que, apesar de ser uma doença de fisiopatologia complexa e sem cura, os avanços na tecnologia e na medicina trouxeram às PVHA a oportunidade de viver uma vida “normal”, como antes da contaminação. 

É evidente a necessidade de incentivar os pacientes a realizarem exames periódicos de IST ‘s, uma vez que a infecção pelo HIV pode ser assintomática por anos, embora o vírus esteja se replicando no organismo do hospedeiro. 

O tratamento nutricional, aliado a outras áreas da saúde, tem o poder de proporcionar qualidade de vida para pessoas que convivem com a doença, seja no estágio inicial da infecção, ou com a síndrome já instalada. 

Lembre-se de favoritar essa página para consultar quando precisar! 

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