A esteato-hepatite não alcoólica (EHNA) representa uma forma mais avançada da esteatose hepática não alcoólica (NAFLD), caracterizada pela presença de inflamação hepática, balonização hepatocelular e, em alguns casos, fibrose. É uma condição silenciosa e progressiva, com potencial de evoluir para cirrose e carcinoma hepatocelular, tornando-se uma das principais causas de transplante hepático em países ocidentais.
Neste artigo, vamos conhecer o caso de Maria, uma paciente diagnosticada com EHNA, e abordar as estratégias nutricionais adotadas para o controle da doença, com base em evidências científicas atuais.
1. Contexto clínico: o caso de Maria
Maria, 45 anos, trabalha como gerente de escritório e leva uma rotina moderadamente ativa. Relata alimentação pouco estruturada, embora tente fazer escolhas saudáveis. Foi diagnosticada com EHNA após exames laboratoriais e de imagem realizados durante check-up. Apresenta sintomas como fadiga leve, desconforto abdominal e fezes amolecidas. Seu IMC encontra-se ligeiramente elevado, com histórico de tabagismo cessado há 5 anos. Não há consumo significativo de álcool.
2. Fisiopatologia da EHNA
A EHNA é caracterizada pelo acúmulo de lipídios nos hepatócitos (esteatose), seguido de estresse oxidativo, inflamação e apoptose celular. A resistência à insulina desempenha papel central, promovendo lipogênese hepática, aumento da captação de ácidos graxos e redução da oxidação lipídica. A disfunção mitocondrial e o aumento na produção de espécies reativas de oxigênio (EROs) contribuem para o dano hepático.
Além disso, alterações na microbiota intestinal e na permeabilidade intestinal têm sido associadas à progressão da doença por meio do eixo intestino-fígado, favorecendo inflamação sistêmica e acúmulo de endotoxinas.
3. Estratégias nutricionais fundamentadas em mecanismos fisiológicos
O tratamento nutricional visa interromper o ciclo de inflamação e dano hepático, promover perda de peso gradual e reequilibrar os processos metabólicos.
3.1. Alimentação anti-inflamatória
Foi orientada uma dieta com perfil anti-inflamatório, rica em frutas, vegetais, leguminosas, cereais integrais, oleaginosas, peixes, azeite de oliva e chá verde. Esses alimentos são fontes de compostos bioativos como polifenóis, carotenóides e ácidos graxos mono e poli-insaturados, que ajudam a modular vias inflamatórias, reduzir o estresse oxidativo e melhorar a sensibilidade à insulina.
3.2. Controle do aporte de carboidratos refinados e gorduras saturadas
A redução de açúcares simples e alimentos ultraprocessados visa atenuar os níveis de insulina e reduzir a lipogênese hepática de novo. As gorduras saturadas foram limitadas por seu papel pró-inflamatório e de estímulo à resistência insulínica.
3.3. Proteína na dose e na fonte certa
A ingestão proteica foi ajustada para atender às necessidades metabólicas, preservar massa muscular e auxiliar no controle glicêmico. Foram priorizadas fontes como peixes (ricos em ômega-3), ovos, frango e leguminosas.
3.4. Hidratação e suporte digestivo
A ingestão hídrica adequada, aliada ao uso de alimentos ricos em fibras solúveis e prebióticos, teve como objetivo modular a microbiota intestinal, reduzindo a permeabilidade e o impacto do eixo intestino-fígado.
3.5. Estilo de vida e exercício físico
A atividade física (aeróbica e resistida) foi introduzida de forma progressiva com acompanhamento de um profissional de Educação Física, visando melhora da sensibilidade à insulina, redução da gordura hepática e apoio à saúde cardiovascular. Técnicas de relaxamento e higiene do sono também foram trabalhadas.
4. Suplementação nutricional com base na literatura
- Vitamina E: antioxidante lipossolúvel com potencial para reduzir inflamação e balonização hepatocelular em pacientes não diabéticos com EHNA confirmada por biópsia.
- Vitamina D: comum em deficiência em indivíduos com doença hepática, relacionada à modulação imune e inflamatória.
- Ômega-3: com destaque para EPA e DHA, demonstrou reduzir triglicerídeos e melhorar a esteatose hepática.
- Ácido alfa-lipóico: antioxidante com potencial terapêutico em estudos preliminares.
- Probióticos: atuam na integridade da barreira intestinal e na modulação da inflamação sistêmica.
5. Monitoramento e acompanhamento
O acompanhamento nutricional foi planejado com retornos mensais nos três primeiros meses e reavaliações laboratoriais semestrais. A expectativa é que com mudanças sustentadas, Maria apresente melhora nos marcadores hepáticos, composição corporal e sintomas clínicos.
Após alcançar os objetivos terapêuticos, será mantido acompanhamento anual para prevenção de recidivas.
Gostou deste conteúdo?
Compartilhe com colegas, salve para consulta e envie pra aquela Nutri que também ama aprender com casos clínicos! 💙
Para mais conteúdos como esse, nos acompanhe no instagram.com/numax.